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O agronegócio é um setor que avança em ritmo acelerado. Em 20 anos, o PIB do segmento deu um salto de cinco vezes, pulando de R$ 533 bilhões em 2004 para R$ 2,72 trilhões no ano passado, segundo dados do IBGE. Essa trajetória de crescimento, no entanto, tem como contraponto a alta dependência de crédito e o uso intenso de alavancagem – condições que se tornam pesadas em períodos de juros elevados, como o que o Brasil tem enfrentado nos últimos anos.
Há, porém, sinais de alívio. Parte do mercado aposta que o Banco Central deve iniciar cortes de juros, atualmente em 15% ao ano, a partir de 2026. A trajetória de queda intensa não será imediata, e 2026 ainda deve registrar Selic em patamares altos. Mas mesmo um início de flexibilização monetária já seria suficiente para aliviar custos financeiros e dar novo fôlego ao setor.
“Todas as companhias do agro têm característica de crescimento, então é natural que juros mais baixos as favoreçam”, explicou Antonio da Luz, economista-chefe da Ecoagro.
Na mesma linha, Gabriel Mollo, analista de investimentos da Daycoval Corretora, destacou que a redução do custo financeiro pode destravar planos que ficaram parados. “Com juros menores, há redução no custo financeiro e maior viabilidade de projetos de médio e longo prazo, como ampliação de área plantada e modernização tecnológica. Além disso, juros mais baixos podem sustentar uma melhora no apetite do investidor para empresas do setor listadas em bolsa”.
O histórico mostra que cortes de juros já trouxeram fortes ganhos para o setor em alguns momentos, mas também períodos de desempenho fraco, segundo estudo da Rico encomendado pelo InfoMoney. O relatório analisou quatro ciclos de redução: 22/01/09, 01/09/11, 20/10/16 e 03/08/23.
Em 2009, no auge da crise do subprime, o agro viveu sua melhor fase. Após queda de cerca de 50% nos meses anteriores, o setor disparou 45% nos seis meses seguintes ao corte e mais de 74% em 12 meses.
Em 2011, a reação foi bem mais tímida. Houve queda de 13% no semestre anterior, seguida de novo recuo nos seis meses posteriores. Só ao fim de um ano é que veio uma alta moderada, de 8,1%.
O cenário melhorou em 2016, quando o setor conseguiu manter valorização de 8% em seis meses e 26,8% em um ano após a virada da política monetária.
Já em 2023, o resultado foi o oposto. Apesar da alta acumulada antes do início do ciclo, o setor entrou em retração depois dos cortes: recuo de 6,6% em 12 meses. Naquele ano, o PIB do agro encolheu 2,99%, pressionado pela queda dos preços em toda a cadeia produtiva.
Data Corte | Perfomance média antes (12m / 6m) | Perfomance média Depois (12m / 6m) |
---|---|---|
22/01/09 | -47,76% / -54,17% | 74,31% / 45,60% |
01/09/11 | 11,58% / -13,36% | 8,11% / -2,94% |
20/10/16 | 9,14% / 10,41% | 26,80% / 8,02% |
03/08/23 | 16,71% / 8,63% | -6,64% / -7,95% |
A safra de 2026 ainda será colhida sob os atuais níveis de juros. O impacto mais relevante da política monetária, portanto, tende a aparecer apenas na safra de 2027. Mas, além dos juros, fatores externos devem pesar ainda mais no próximo ciclo, falou Luz. Segundo ele, o quadro global de oferta e demanda tende a favorecer as companhias brasileiras.
Há uma perspectiva de produção muito apertada de soja em relação ao consumo mundial, falou, e os Estados Unidos e a Argentina devem reduzir a oferta, enquanto apenas o Brasil apresenta crescimento. “O consumo global deve subir cerca de 14 milhões de toneladas, mas a produção só aumentará em 2 milhões, o que cria uma relação muito justa entre oferta e demanda”, explicou.
Esse cenário, acrescentou ele, deve levar as exportações brasileiras de soja a crescerem 10% em 2026, puxadas pela demanda chinesa. Como China e Estados Unidos vivem um momento de tensão comercial, disse, a tendência é que Pequim continue priorizando o produto brasileiro, como já fez em 2018 e 2019. “Os EUA têm menos produção, mais consumo interno e menos excedente, então cabe ao Brasil fornecer produto ano que vem”
No milho, a expectativa também é de estoques reduzidos, o que deve sustentar preços em patamares mais altos que os de 2025.
Mollo, da Daycoval Corretora, disse que o setor agro brasileiro tem fundamentos sólidos de longo prazo, com competitividade global e ganhos de produtividade, mas o curto prazo é desafiador. “Ainda há incerteza quanto ao comportamento das commodities, efeitos climáticos recentes e volatilidade cambial”.
Para o investidor de perfil mais conservador, disse, o ideal é buscar exposição gradual, privilegiando companhias com balanços robustos, diversificação geográfica e disciplina de capital. Já para o investidor de longo prazo, os preços mais descontados em alguns papéis podem representar oportunidade, desde que o risco intrínseco do setor esteja bem dimensionado.
Luz, da Ecoagro, tem visão mais otimista. Para ele, o momento é positivo para investir nas companhias do agro, sobretudo diante das perspectivas para 2026. Ele falou que os frigoríficos, que têm a característica de serem mais alavancados, podem se beneficiar de quedas de juros. Duas empresas citadas foram JBS (JBSS32) e Mafrig (MRFG3).
Ele acredita que que companhias de perfil mais conservador em termos de endividamento também devem ser beneficiadas, ainda que em menor grau, como SLC Agrícola (SLCE3), Boa Safra (SOJA3), Três Tentos (TTEN3) e M. Dias Branco (MDIA3). “São empresas que já trabalham dentro de um limite de endividamento bastante comportado, bastante seguro, mas ainda assim tomam crédito e devem sentir de forma intensa os efeitos da queda dos juros”.
The post Ações do agro sobem até 74% após cortes na Selic; cenário será o mesmo em 2026? appeared first on InfoMoney.
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