O Fed está confortável para sinalizar o início da queda dos juros?

Março, maio ou junho? O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) fecha sua primeira reunião de política monetária do ano com expectativa de manutenção da taxa diretora de juros dentro da banda entre 5,25% e 5,50% estabelecida em junho do ano passado e com esperanças pelo mercado de sinais a respeito da data de início do ciclo de cortes, o próximo movimento natural esperado para o Federal Reserve.

Um desses sinais deve vir da mudança ou da exclusão de uma frase dos últimos comunicados do banco central americano, que comentava a possibilidade de algum “aperto adicional” da política. “Acho que não estão mais avaliando quanto mais aperto é necessário. A questão é por quanto tempo esse aperto corrente será necessário”, comenta Marcos de Marchi, economista-chefe da Oriz Partners.

Mas é na avaliação dos últimos dados macroeconômicos que será possível acompanhar o termômetro do Fed. Na semana passada, foi anunciado que o PIB dos EUA cresceu vigorosos 3,3% no 4º trimestre, mais que a mediana das projeções de mercado e acima da taxa observada no 3º trimestre. Isso fortaleceu a tese de que a economia americana fará um pouso suave em 2024.

Em termos de inflação, a situação ficou ainda mais cômoda. O PCE, índice de preços relacionado ao consumo e considerado pelo Fed o mais preciso para observar a tendência, fechou o ano com taxa anualizada de 2,9%, a menor em mais de dois anos. E as medidas de núcleos de 3 e de 6 meses estão abaixo da meta de inflação oficial de 2%.

“Tem uma tranquilidade razoável com os dados recentes de inflação”, afirma Marchi. “Uma recessão está descartada e os dados de atividade só vêm confirmando este cenário. A inflação segue desacelerando, dando espaço para que o Fomc antecipe o início do ciclo de corte de juros”, pontua Andressa Durão, economista da ASA Investments.

Claudia Rodriques, economista do C6 Bank, no entanto, aposta que Fed não mostrará pressa em começar o ciclo de flexibilização. Ela reconhece que o “core” do PCE tem sido bem-comportado, mas alerta que várias medidas de inflação subjacente continuam bastante elevadas, em torno de 3%, na margem.

“A parte da inflação relacionada a serviços, que está mais associada ao mercado de trabalho, segue alta. Apesar da desaceleração recente, o mercado de trabalho ainda está aquecido, mantendo salários crescendo acima da produtividade, o que pressiona custos e aumenta preços”, explica.

A opinião da Julius Baer é semelhante. Para a consultoria, o cenário de crescimento sólido da economia argumenta contra o envio de um sinal claro nesta semana de que os cortes nas taxas ocorrerão na próxima reunião do Fomc, em março. “Esperamos que este seja o caso no início de maio e não em março, e prevemos uma trajetória mais cautelosa de cortes nas taxas do que os mercados estão prevendo atualmente.

Visão “quase” de dentro

Uma visão importante sobre o diagnóstico que o Federal Reserve tem da situação foi dada nesta semana por James Bullard, que hoje é reitor a Escola de Negócios da Purdue University, mas que até julho passado estava no Fomc. “Eles (o Comitê) não querem entrar no segundo semestre de 2024 com a inflação já  em 2% e sem mudar a taxa básica. Isso seria tarde demais”, disse em podcast do The Wall Street Journal.

E qual deve ser o tom a ser adotado na comunicação do Fed em seu anúncio e do presidente Jerome Powell na entrevista coletiva desta quarta-feira? Marchi, da Oriz, acredita que a linha do discurso será de que ainda não dá para declarar vitória na guerra contra a inflação, mas que as batalhas estão sendo conquistadas mês a mês.

“E que a robustez da economia americana, o crescimento ainda acima do potencial, exige uma cautela quanto ao momento ideal para se iniciar o ciclo de cortes”, pondera o economista.

Para Bullard, o Comitê precisa de uma estratégia agora sobre como abordará 2024 e a possibilidade iminente de cortar a taxa básica de juros. “Eles querem reduzir essa taxa de forma organizada.”

Já Andressa Durão acredita que o Fomc pode suavizar mais o tom na reunião e abrir a porta para um corte de juros em março.

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